Segundo Mandato de Trump Poderá Impactar Economia de Santa Catarina

A reeleição de Donald Trump para um segundo mandato como presidente dos Estados Unidos deve gerar consequências diretas e indiretas para a economia catarinense e a política brasileira. As políticas econômicas propostas pelo republicano, incluindo o fortalecimento do protecionismo e a imposição de tarifas sobre importados, podem impactar setores-chave da economia catarinense.

Sendo assim, analisamos como as medidas planejadas pelo governo Trump podem afetar as exportações de Santa Catarina e os desdobramentos esperados para a política brasileira.

Como a Política de Trump Afeta as Exportações de Santa Catarina?

O protecionismo é uma das marcas registradas de Trump. Afinal, make america great again. Para o segundo mandato, o ex-presidente anunciou a intenção de intensificar as tarifas sobre produtos importados, principalmente aqueles originários da China.

Se implementadas, essas tarifas de 10% a 20% visam fortalecer a indústria americana, mas também podem impactar mercados globais, incluindo o Brasil. O setor de exportações de Santa Catarina, estado conhecido por sua capacidade exportadora, deve sentir esses efeitos.

Pablo Bittencourt, economista-chefe da Fiesc, sugere que produtos catarinenses concorrentes de itens norte-americanos podem ser prejudicados, caso as tarifas sejam aplicadas de maneira geral.

No entanto, há uma janela de oportunidade: se as tarifas forem predominantemente voltadas aos produtos chineses, Santa Catarina poderia preencher lacunas no mercado norte-americano. Com o aumento dos custos de importação de itens chineses, produtos brasileiros podem ganhar competitividade.

Que Setores Catarinenses Podem se Beneficiar das Tarifas Impostas aos Chineses?

O primeiro mandato de Trump trouxe uma amostra do impacto dessas políticas. Em 2018, o então presidente elevou as tarifas sobre motores e geradores importados, favorecendo a indústria brasileira em detrimento da China.

Santa Catarina, com destaque na produção de equipamentos elétricos e peças de motor, foi beneficiada diretamente. Esse tipo de cenário pode se repetir e expandir com um segundo mandato. Uma vez que os EUA buscam alternativas para reduzir a dependência da China.

Além disso, possíveis retaliações da China aos EUA, por meio de tarifas sobre produtos agrícolas americanos, poderiam beneficiar o agronegócio catarinense.

Produtos como carne suína e de frango, onde Santa Catarina é líder de exportação. Dessa forma, poderiam tornar-se mais atraentes para o mercado chinês devido ao aumento de custos dos produtos americanos.

Trump e a Aliança com a Direita Brasileira: O Que Isso Significa para a Política Nacional?

Na política, um segundo mandato de Trump provavelmente resultaria em um fortalecimento da ala conservadora e da direita brasileira. Trump tem sido uma figura emblemática para líderes de direita em várias partes do mundo. E sua vitória poderia fortalecer essa corrente ideológica no Brasil, estimulando ainda mais o apoio a políticas nacionalistas e conservadoras.

A Fiesc, entidade que representa os interesses das indústrias catarinenses, já se pronunciou a favor de uma administração que defenda a iniciativa privada e valores alinhados com os industriais locais. Gilberto Seleme, presidente em exercício da entidade, declarou que a volta de Trump, como empresário defensor do livre mercado, encontra ressonância em Santa Catarina, um estado com forte perfil empresarial.

Como a Política de Juros nos EUA Pode Impactar a Economia Brasileira e o Câmbio?

Outro impacto esperado do novo governo Trump é na política de juros dos EUA, que pode ter reflexos significativos para a economia brasileira. A combinação de aumento das tarifas e estímulos econômicos poderia gerar inflação nos Estados Unidos. O que possivelmente levaria a um aumento nas taxas de juros americanas. Como resultado, investidores internacionais poderiam preferir alocar recursos nos EUA. Sendo assim, é o que forçaria o Brasil a adotar uma política de juros elevados para manter a competitividade.

Esse cenário de aumento de juros nos EUA tem implicações diretas no câmbio. Após o anúncio da vitória de Trump, o dólar atingiu uma alta histórica, chegando a R$ 5,87, o segundo maior valor registrado. Se essa tendência continuar, a economia brasileira poderá enfrentar pressões adicionais. Especialmente no que diz respeito aos custos de importação e à inflação, o que teria um impacto direto no poder de compra dos brasileiros.

O Impacto nas Relações Internacionais e a Nova Ordem Global

A vitória de Trump sinaliza também um afastamento dos Estados Unidos em relação ao multilateralismo tradicional. Esse fenômeno, iniciado sob a gestão anterior de Trump e mantido por Biden em alguns aspectos, reforça o unilateralismo e o foco nos interesses próprios dos EUA, ignorando, em muitos casos, a mediação de organizações como a Organização Mundial do Comércio (OMC).

Em um cenário global de tensões geopolíticas, como a guerra na Ucrânia e o conflito no Oriente Médio, essa postura fortalece novos polos de poder, como a China, que se apresenta como alternativa em estabilidade nas Relações Internacionais.

Daniel Corrêa da Silva, professor de Relações Internacionais, acredita que o distanciamento dos EUA de uma diplomacia multilateral pode acentuar um novo equilíbrio de poder global, com países asiáticos assumindo maior protagonismo.

A possível mudança na liderança mundial impacta o Brasil e outras nações que tradicionalmente mantinham laços fortes com os Estados Unidos, trazendo desafios e oportunidades em novos acordos comerciais e alinhamentos geopolíticos.

O Que Santa Catarina e o Brasil Podem Esperar de um Segundo Mandato de Trump?

Os reflexos do segundo mandato de Trump devem ser amplos, afetando diretamente a economia catarinense, a política nacional e as relações diplomáticas do Brasil. A política protecionista de tarifas promete ser um divisor de águas para as exportações catarinenses, ao mesmo tempo que a volatilidade do câmbio e a possibilidade de aumento dos juros nos EUA geram desafios para a estabilidade econômica brasileira.

Por fim, a continuidade do unilateralismo americano no cenário internacional coloca o Brasil diante de uma nova realidade geopolítica. Ao mesmo tempo, Santa Catarina poderá explorar novas oportunidades de exportação, o país todo deverá reavaliar suas estratégias de comércio exterior e políticas econômicas para se adaptar aos novos ventos que sopram de Washington.